fúria natalícia
depois da meia-noite
no silêncio da noite
encontro-me a ler no aconchego da minha câmara
sob efeitos aconchegadinhos opiáceos quentinhos
começo a ouvir, no fundo da rua, sons de estilhaços
passos descoordenados
anátemas atirados ao ar frio da noite
um indivíduo alcoolizado realiza a transformação em cacos
de garrafas, de vidros de automóveis, de janelas de habitações – da sua própria vida
ninguém acode
durante o tempo em que a sua devastação decorre
o indivíduo pode libertar-se e lograr a sua destruição catártica
ninguém chama a polícia
é natal
talvez o indivíduo não tenha recebido presentes este natal
se for este o caso é compreensível a sua fúria
justifica-se a sua devastação destruidora
e desculpa-se
durante cerca de uma hora, o furioso dá largas à sua liberdade
de entremeio vocifera algo acerca ‘dos pobres’ que não consigo descortinar
quando parece que acabou, ouvem-se mais estilhaços
que asseguram a persistência da missão
no final, do princípio ao fim da rua
não escapou um automóvel, uma janela
noite de paz, noite de amor
tudo brilha, tudo é calma
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