7.9.08

o danado

6 da manhã
uma madrugada de outono
frio chove um baixo nevoeiro vasto espesso cobre as ruas
vou com a moca e com sono a andar para casa - vejo-o
estatura baixa com um cão
já o tinha visto antes
o cão é quase maior que ele
ele tem um olhar doentio
anda devagar, sem pressa
vejo-o sempre sozinho assim a deambular com o cão
a lançar olhares de ódio ao que o rodeia

passo por ele e olho-o de relance fugidiamente com receio
o olhar dele como sempre, desvio o olhar com receio
surpreende-me que não me esventre

ele é baixo mas musculado
já não é novo mas mantém uma certa aparência jovem
as calças arregaçadas, a eterna postura de puto mitra
os eternos putos mitras são personagens interessantes
à distância e de passagem, se não tiveres que levar com eles

o olhar dele diz-me que vai fazer mal a qualquer momento
e destruir o meu romancear com um sopro
sem sequer se dar conta disso
tal a futilidade e estupidez do meu romancear
ele aproveitar-se-á de mim através do meu romancear
obviamente sem remorsos

que fará? onde vive? que faz aqui a estas horas?
as respostas destruiriam num ápice a minha ilusão idiota


fantaziu em xupar-lhe a pixa



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