7.1.09


que fazes?

perguntam-me com frequência
a ponto de perder a paciência

não faço as pazes
escrevinho
definho
bebo vinho

oiço música clássica no viníl
vejo a vida por um funil
não espero nada além do nihil
toda a gente anda a mil

eu ando a zero
desespero
mas não espero
por ninguém

não que tenha pressa
ora essa
é que há muito que(m)e aborreça
e não há nada que me impeça

sou uma peça
fora da engrenagem
sempre em derrapagem
sempre à margem
à espera da aragem
mais fresquinha

és bonitinha
posso conhecer-te?
pensas logo
que quero comer-te

ja lanchei
não estou com fome
vou para casa
tocar trombone

porque sou diletante
axam-me menos importante
vejam lá se um dia
não levam de rompante

adiante

enferm


dor pelo corpo todo
dor de cabeça
os membros a latejar
garganta seca
dificuldade em respirar

mexer-me dói
doem-me os ossos
como febre deng
o pingo a cair

aceito como uma paragem
uma reflexão
não querer forçar e algo tomar para por cima disto passar
escutar o que sinto
o corpo recupera por si próprio
leva o tempo que for preciso
assim fortalece-se
os medicamentos enfraquecem

já recuperou rapidamente o que parecia o pior
amanhã estarei melhor
observo a dor
saboreio-a
habituo-me a ela
supero-a
torno-me mais forte
depois de cada enfermidade


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