12.4.20



Super vírus



Vira-a no supermercad

no pico antes do planalto

da coroação do pandemónio


Ela estava na esquina das azeitonas

em frente ao último balcão do peixe

morena de longos cabelos lindos

tez pálida olhos escuros

que pernocas, minha deusa


Deambolou no corredor da mostarda e dos molhos

e eu a persegui-la com os olhos

ao longe

à espera de carapaus


Ai uma vida com uma mulher assim

o chegar a casa e ela estar lá

ou estar lá e vê-la entrar

tê-la por casa

ver aquelas pernas a passear pela casa

e passeá-la a ela também

levá-la a apanhar ar

ou ela a mim

pela trela

da minha paixão por ela


Decidi persegui-la pelo super

com super cuidado e timidez

na ocultação da protecção acrescida do exarpe

contra o vírus coroado


Entre tanto e tudo o mais, sucede o que eu mais receava

A namorada dela, surgida dos fundos, da zona dos detergentes

munida de uma lixívia perfumada

determinada a extinguir toda a minha esperança onírica

em propagar o vírus do desejo


Acho até giro ela ser analcansável, desculpem, inalcansável

incansável continuarei na minha veneração


Saíram a carregar um enorme saco de comida para gatos

cat lady nas pernas de quem me enroscaria

a ronronar a pedir para saltar para o colo


Deusa dos corredores da mercadoria alimentar

alimentaste a minha alma apenas com o teu vislumbrar

numa tarde cinzenta e chuvosa como eu gosto

quebrando a quarentena do vírus para o qual procuram a cura


Contagiaste-me com o para o qual tu a és



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