26.12.09


fúria natalícia


depois da meia-noite
no silêncio da noite
encontro-me a ler no aconchego da minha câmara
sob efeitos aconchegadinhos opiáceos quentinhos


começo a ouvir, no fundo da rua, sons de estilhaços 
passos descoordenados
anátemas atirados ao ar frio da noite


um indivíduo alcoolizado realiza a transformação em cacos
de garrafas, de vidros de automóveis, de janelas de habitações – da sua própria vida
ninguém acode


durante o tempo em que a sua devastação decorre
o indivíduo pode libertar-se e lograr a sua destruição catártica 
ninguém chama a polícia
é natal


talvez o indivíduo não tenha recebido presentes este natal
se for este o caso é compreensível a sua fúria
justifica-se a sua devastação destruidora
e desculpa-se


durante cerca de uma hora, o furioso dá largas à sua liberdade
de entremeio vocifera algo acerca ‘dos pobres’ que não consigo descortinar


quando parece que acabou, ouvem-se mais estilhaços 
que asseguram a persistência da missão


no final, do princípio ao fim da rua
não escapou um automóvel, uma janela


noite de paz, noite de amor
tudo brilha, tudo é calma


Ler mais »
Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-Noncommercial-No Derivative Works 2.5 Portugal License.