8.10.11



prez na casa de banho
depois de tiros e espancamentos
no dia de escrave assalariade



depois da mani
reprimida com bala real e balas de borracha

tiros de caçadeira
perseguiçao pelas ruas da cidade
ateh perto do meu covil
prisoes
espancamentos
aplaudidos e justificados depois pelos media massas
cheguei ah nova casa
algo tense

1º dia nesta casa
tensao
ninguem com quem partilhar
como de costume
arrumar cenas
e, antes de ir dormir
ir ah casa de banho

naturalmente tranquei a porta
caguei
e ao sair,
e ao sair
a porta nao abre

insisto
a chave encravou
tento e volto a tentar
respiro fundo
tento manter a calma
experimento de diferentes maneiras
abrir a porta
a porta não abre
fico nisto para ai 10 minutos

a certa altura
por cerca de 5 segundos
sinto panico
apercebo-me
posso ficar prez dentro desta casa de banho durante dias
nao sei quando a pessoa do outro quarto volta
pode ser amanha de manha
mas pode ser daqui a dias

consciencializo-me disto
tenho que pedir ajuda

começo a bater na parede da casa de banho
a gritar por socorro
‘estou presx na casa de banho!’
apesar do instinto de sobrevivencia
apercebo-me do ridiculo disto
continuo a bater na parede, a gritar
oiço uma voz

eh uma voz brasileira
pergunta-me onde estou
berro o numero da porta e andar
berro para chamar os bombeiros
acede

acalmo-me
alguem ja me ouviu

dai a pouco batem na porta da frente
sao os vizinhos da frente
porque havia batido tambem na porta da casa de banho,
digo o que se passa
dizem que vao pedir ajuda
digo para ligarem ah senhoria, que tem a chave, eles conhecem-na

esperei cerca de uma hora, desde que comecei a berrar, ateh os bombeiros virem
foi rapido

os bombeiros chegaram
perguntaram-me, mais que uma vez, porque estava trancada na casa de banho (!)
respondi, mais que uma vez, que a fechadura encravara

a chave tava na porta, por dentro, a senhoria veio e nao conseguiu abri-la
tiveram que serrar a porta do sotao, que eh de metal
soh ouvia os pedaços de metal a cair no chao

lah entraram dentro de casa
arrombaram a porta da casa de banho

ao sair vejo 2 bombeiras boazonas com quem tinha falado enquanto encarcerado
tinham vozes sequesis a condizer
os vizinhos doutros andares todos a olhar no corredor de entrada
digo boa noite
e vou agradecer aos vizinhos
volto para dentro
vejo 2 bofias na sala de estar a olhar para mim como se fosse culpad
e a senhoria

dirijo-me a e eles
a senhoria afasta-se
ninguem me pergunta se estou bem
se preciso de alguma coisa
sou imediatamente confrontad com burocracias
os bofias pedem-me a identificaçao
e dizem para assinar uma folha
pergunto o que eh
‘registo de ocorrencias’

depois a senhoria dirige-se-me
fazendo um grande esforço para parecer mais perturbada que eu
faz-se de vitima
ignoro-a
sai

fico de novo sozinh
deito-me
e durmo



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